O dia em que minha alma fugiu do
castigo de se sentir-se perdido em um corpo desamparado pela razão em
desencontro com a paixão. Desespero? Pensei. Fuga? Talvez. Medo? Essa é a
certeza mais concreta que tenho neste plano abstrato, ilógico. Não! Reafirmo
diversas vezes na esperança de reabrir a porta para que eu possa voltar para
meu corpo e não sentir aquele incomodo que me troca o ar pela agonia. Amor? Eu
tenho plena certeza de que é, mas não daqueles que sentimos uma vez na vida,
está mais para aquele que sentimos antes de dormir, no calor do travesseiro, de
um lençol dotado de muito apego, no calor da madrugada. Não, não se pode amar
um cheiro, uma cor, um timbre, um toque suave já nuca enquanto rabisca-se
pensamentos sobre algo concreto e estritamente necessário. Isso me tira a
realidade, os poderes voluntários de um homem que estava completo. Perdi todas
as possibilidades de raciocinar acerca de quaisquer outra situação. Eu nego,
repito a negação, me recuso a acreditar, mas não... não é. Assumo ser
impossível ter certeza de alguma coisa, estou imerso em águas profundas, em correntezas
violentas, rodeado de seres antes comum mas agora estranhos. Apesar de novo, de
cruel, de devassador, de violento, de constrangedor, de amedrontador, de incerto,
de tentador, eu gosto de tudo isso que adentra e me expulsa de meu próprio corpo,
antes são, agora ausente de alma, pois errei, perdi todas as chances, não sou
quem pensei ser, perdi a certeza da verdade absoluta e clara. Fugi de mim, de
tudo, perdi o equilíbrio e agora sou espectador de minha própria paixão. Estou sozinho,
em silêncio com meus sentimentos errôneos, distantes e próximos de alguém que
não distingue a paixão da alma e o amor do coração, de alguém que não sabe
conviver com incertezas.